quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Como obter paz? por Gabriel Pontes

Antes de ser capturado pelos judeus e ser entregue às autoridades do império romano na Palestina, Jesus congregou seus discípulos e assegurou-lhes a mais perfeita dádiva que poderiam almejar enquanto seres terrestres: “deixo-lhes a minha paz, a minha paz lhes dou” (Jo.14.27). Não se tratava de uma paz semelhante àquela que o mundo disponibilizava - que acalmava a carne, mas aprisionava o espírito -, entretanto, uma quietude que prometia elevar-se acima do plano material e dirigir-se ao ser interior do homem. Cuido que a ausência desta paz seja a razão de diversas misérias que cercam as sociedades contemporâneas, e justifico-me.
Luiz Otávio de Lima Camargo, professor do curso de Lazer e Turismo da Universidade de São Paulo, discorrendo memoravelmente sobre teorias de Harvey Cox (1974) acerca de festividade e fantasia, abre um parêntese para comentar sobre fatores que induzem os seres humanos a alterarem voluntariamente seu campo de consciência, como é o caso da utilização de drogas ou do próprio comportamento gregário: “o ser humano, em qualquer época, sempre desejou profundamente viver a experiência da autotranscendência (...) na verdade ele procura fugir da consciência de que é apenas o que é”.
Mas, o que é o homem? O espírito científico inaugurado com “milagre grego”, retomado pelo Iluminismo renascentista e difundido por outras escolas como o evolucionismo, positivismo e o racionalismo, norteou as idéias de célebres pensadores que afirmavam o homem como um organismo semelhante aos demais seres da natureza, distinguindo-se apenas por sua razão.
No referido excerto bíblico, o Senhor Jesus deixa nítida a resposta dessa questão ontológica ao assumir, implicitamente a condição de Príncipe do Reino que se opõe ao “príncipe deste mundo”, numa tentativa de expor como cada uma destes reinos influi nas duas partes que compõe a totalidade da natureza humana: a espiritual e a material. A função do “mundo” é saciar os desejos da natureza  pós-queda, enquanto que a do Reino é propiciar tranqüilidade àquela seção que traz resquícios da imagem e semelhança divinas, por isso a paz que o Crucificado promete não é igual a do mundo,e tão pouco a forma como estas são disponibilizadas coincidem.


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Existe ou não, eis a questão! por Gabriel Pontes

Analisando hoje à tarde o livro Filosofia da Religião de John Hick (Universidade de Princeton), deparei-me com uma maravilhosa abordagem sobre o conceito de Deus e Sua existência. Nessa obra, o autor determina as diversas formas de crenças em deidades (como o ateísmo, deísmo, agnosticismo, politeísmo, henoteísmo, politeísmo e monoteísmo) e a seguir, faz referência a Paul Tillich ao expor argumentos judaico-cristãos acerca da existência de Deus. E isso me interessou.
Sim, pois para Tillich: “... a pergunta sobre a existência de Deus não pode ser formulada nem respondida. Se inquirida, é uma questão sobre aquilo que, por sua própria natureza, está acima da existência e, portanto, a resposta – quer negativa ou afirmativa – nega implicitamente a natureza de Deus. Constitui uma posição tão ateísta a de afirmar a existência quanto àquela que a nega. Deus é ser em si mesmo, não um ser.”
Refletindo sobre a afirmação,  compreendi tratar-se de uma grande verdade, tendo em vista nossa realidade ser completamente diferente da do Criador, tanto no tempo como no espaço. Para Anselmo (1033-1109): “... tu não foste ontem e tu não serás amanhã, mas ontem, hoje e amanhã, tu és. Na verdade isso não significa que tu és, não só ontem, como hoje amanhã, mas, propriamente, que tu simplesmente és fora de qualquer noção de tempo, pois ontem, hoje e amanhã pertencem exclusivamente ao tempo. Porém apesar de nada existir sem ti, tu não existes no espaço ou no tempo, todas as coisas é que existem em ti. Entretanto nada te contem, mas tu conténs todas as coisas.”
Isso quer dizer que é um grave erro atribuir o mesmo sentido de existência humana à divina (que lhe é superior), pois o Senhor existe em si mesmo (aseidade) e inexiste uma realidade destrutiva ou construtiva à Ele, sendo assim, um ser eterno. O apóstolo Paulo escreveu aos Romanos: “... porque dEle e por Ele, para Ele são todas as coisas.” E João : “...sem Ele nada do que foi feito de fez...” Por quê? Pois o Senhor foi a causa criadora de todas as coisas, a “matéria-prima” e não se utilizou de meios alheios a si mesmo para tal (bara , creatio ex nihilo). Portanto, como uma escultura que depende do gesso para se suster, a criação necessita do Mestre para manter-se viva.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O que Deus quer de mim? por Gabriel Pontes

Uma das mais belas e marcantes palavras de Jesus Cristo podem ser encontrada no famoso Sermão da Montanha (Lc 6.17). Belas, pois foram de uma complexidade e graciosidade admiráveis no que tange ao teor de conhecimento da Torá (Lei) e, marcantes, pela simplicidade com que adentraram na mente de seus ouvintes e confrontaram-os com a realidade.
Jesus sabia que, desde a antiguidade, o povo de Israel imaginava que a salvação viesse pela severidade da aplicação da Lei (dada por intermédio de Moisés no Monte Sinai) bem como pelo cumprimento de ritos pré-determinados por Deus, havendo portanto, entre a maioria de seus ouvintes, verdadeiros auto-denominados "santos" e "justos".
Contudo, aquele homem simples, demonstrou o real intuito do Pai aos homens ao estabelecer a Lei: "Misericórdia quero, e não sacrifício", ou seja, o amor para com seu semelhante, o coração puro mediante a submissão à Deus.
A máxima do pensamento, provém de: "Se lhe ferirem a face direita, dê também a esquerda" e ainda " Bendigam os que vos maltratam". Não houveram pedras de soberba que não caíram por terra....